Ainda estou atônita,perplexa.
Ontem fui ver a aclamada peça "Hamlet". Composta por um elenco de peso, como Wagner Moura contracena com um elenco formado por Tonico Pereira, Carla Ribas, Georgiana Góes, Caio Junqueira, Cláudio Mendes, Fábio Lago, Felipe Koury, Marcelo Flores e Gillray Coutinho; a montagem ainda é assinada por Aderbal Freire-Filho, em parceria com Wagner Moura e a professora Barbara Harrington.
Para total contradição das minhas idéias, a peça foi extremamente premiada e reconhecida ao longo de seu histórico. Para constar alguns prêmios desta, cito aqueles recebidos em 2008, como no "Qualidade Brasil", onde ganhou os títulos de Melhor Espetáculo – Júri Popular, Melhor Ator (Wagner Moura) e Melhor Direção (Aderbal Freire-Filho). No "2° Prêmio Contigo de Teatro", a peça recebeu os prêmios de Melhor Espetáculo – Júri Popular, Melhor Ator – Júri Oficial (Wagner Moura) e Melhor Figurino – Juril Oficial (Marcelo Pies). Já no "4° Premio Bravo! Prime de Cultura" e o "Prêmio Revista Quem" premiaram Wagner Moura, respectivamente, como Artista do Ano e Melhor Ator
A peça, que conquistou o público nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, que está em cartaz no belo Teatro da UFPE, por uma curta turnê de 2 dias (ontem e hoje), (tenta) retrata o histórico e clássico texto escrito por William Shakespeare no início do século 17. Hamlet retrata os dilemas vividos pelo conturbado príncipe da Dinamarca em sua vingança contra o tio Cláudio, assassino de seu pai.
Ok, a intenção é nobre. Segundo consta, o objetivo do grupo era trazer este clássico para perto do público e (pasmei!)
ser fiel ao universo shakesperiano. O mote da direção é o próprio teatro, já que Hamlet é a peça mais metalinguística de Shakespeare. Durante a montagem, os atores permanecem o tempo todo em cena, assistindo ao desenrolar da trama como platéia, interagindo com os outros, trocando de roupas e, até mesmo, de papéis. Tendo a trilha sonora inédita, composta pelo maravilhoso Rodrigo Amarante,(Los Hermanos/Litlle Joy), os figurinos desenvolvidos por Marcelo Pies e a cenografia elaborada pela premiada dupla Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque, a peça tem feito sucesso por onde passa.
É.
Minhas concepções foram
profundamente modificadas.
Durante as longas e infinitas quatro horas de peça comecei a me questionar se estou virando uma velha ranziza, se eu era, de fato, muito ignorante e minha inteligência era muito aquém do que aquela requintada peça requeria que fosse... Diversos meta-questionamentos passaram-se na minha cabeça (e nada mais Shakespeariano poderia acontecer, ainda mais assistindo uma peça de Hamlet!). Mas essas dúvidas logo fugiram da minha mente ao ver os ávidos comentários dos espectadores ao final da peça. Não,eu não fui a única.
Muito ficou a desejar para mim, muitas perguntas sem respostas. Porque aquele teatro estava tão lotado,sobrando-me apenas uma distante cadeira na galeria? Talvez, de fato, todas aquelas pessoas estivessem ali para ver o belo sorriso de Wagner Moura,e isso não é um demérito. Afinal, todo ator acaba passando um pouco disso, acaba atraindo o público,primeiramente,por questões frívulas,como a beleza; mas depois o público surpreende-se ao ver que, indo atrás do conteúdo superficial, depararam-se com um conteúdo deveras profundo. Isso é normal e completamente aceitável. Se fosse manezinho da esquina, duvido que alguém se desbancaria de sua humilde e confortável residência para ver Hamlet. Ok,louvável. Mas as quatro perdidas horas da minha vida não serão pegas pelo sorriso belo de Moura. Contudo, uma coisa é fato irrefutável:
ele é um excelente ator!
Acredito que o objetivo daquela conturbada confusão mental que convenciou-se chamar de "peça" é, como foi dito lá, colocar um espelho para o público. Toda aquela confusão retrata, de fato, a fingida loucura de Hamlet, sendo este o meio para alcançar seu vingativo fim. Assim, Wagner - e todos os outros atores, mas ele em merecido destaque - é extremamente feliz na interpretação. Ele, de fato, convence ao público que está louco, fingidamente louco! A culpa não é dele, nem de nenhum dos atores.A atuação em si estava ótima. Contudo, salvo algumas poucas partes da peça - como quando ele compara o ser humano à flauta, essa parte que já citei do teatro-espelho, sua metalinguagem sátira ao teatro numa auto-crítica interessante - foi, para mim,uma experiência angustiante!!
Não falo do figurino modernista, do cenário, no mínimo, diferente, nem mesmo daquela câmera filmadora o tempo todo aparecendo e desaparecendo, tirando a atenção do público (aliás,para que aquela câmera,eu continuo me perguntando!). Não falo de como estragou-se monólogos introspectivos históricos, como ser ou não ser...
Não falo sequer dessa mudança abrupta e desavisada dos personagens de papel,fala,lugar...isso eu até achei bem interessante e instigante.
Não. Falo do texto mal escrito,confuso,prolixo! A grande arte de,como foi dito na peça, tudo que dizer ser
nada!!
Se alguma pobre alma foi àquele teatro procurando saber sobre Hamlet saiu de lá ainda mais confuso. Em mim houven a latente sensação de que a peça fora toda improvisada!! Pensamento totalmente absurdo,pois ninguém estaria com uma peça em cartaz há anos, baseada em improvisos (a não ser que fosse stand-up comedy).
Concordo que o texto de Hamlet é,de fato,muito pesado e seria massante passar aquelas quatro horas ouvindo uma reprodução fiel dos delírios e desejos de vingança do pobre personagem. Mas essa tentativa de roupagem pós-moderna que Aderbal e equipe tentaram dar à peça ficou ainda mais massante! O público saiu de lá sem saber direito o que pensar. Me parece que as pessoas têm medo de dizer que não gostaram de algo que faz muito sucesso. Pois eu digo: não gostei!
Penso que Shakespeare se revirou no túmulo.
SE eu entendi corretamente, Wagner a um determinado ponto escolhe que é melhor fingir-se de louco,enloquecendo todos a sua volta,fazendo com que as loucuras ocultas de todos aflorascem. Mais adiante, aproveita-se o ensejo para fazer uma série de reflexões sobre o que é teatro,o que é crime, o que é loucura e o que é consciência. Ok,se eu entendi,foi assim. Mas aí está o problema: o livro foi fechado e eu não tenho certeza se aprendi direito o que li.
Está certo?
O texto, em minha opnião, é demasiadamente confuso e tenta, até demais, fugir da normalidade esperada no teatro.
Aí caio numa discussão sem fim, que há anos me persegue: o que é arte contemporânea?
Depois do glorioso modernismo, da semana de 22, dos Andrades todos, do cubismo,dadaísmo e tudo mais, o que vivemos agora? Alguns dizem que agora tudo que se produz é classificado como pós-moderno e tudo é arte. Bem,se tudo é arte,nada é arte! Simples! Se a arte é,por essência, a aristocracia da vida, a capacidade de imobilizar aquele belo (no sentido mais amplo da palavra) momento da vida...e se tudo é arte,então,nada é arte!!!!!!!!!!
Não posso ser hipócrita comigo mesmo e dizer que ao sair de uma exposição de artes modernas, onde vejo pedaços de pau amarrados,um cachorro morrendo de fome com palavras escritas acima de sua cabeça em ração, ou pedaços de papéis amassados, ferros retorcidos longe de qualquer significado... essas obras ''pós-modernas''... eu me sinto revigorada,como ao ver obras como Monalisa, Pietá, Madona, ou mesmo belos poemas de Camões, dos Andrades todos, de Drummond, de Azevedo.
Não! Isso seria mentira. Aliás, muito pelo contrário, esse tipo de "arte" me oprime e confunde. Isso não é arte!
Essa tentativa desesperada e vã que vivemos hoje de soltar-nos dos padrões previamente estabelecidos é terrível. Concordo que devemos sempre estar em busca de novas formas de expressões e que sempre devemos nos atualizar. Mas hoje monto para mim uma coletânea de "artes" assustadoras (essa peça, essas exposições de arte moderna...) que apenas me levam a esta reflexão, de que quanto mais tentamos ser diferentes, mais iguais somos.
A peça foi assustadoramente ruim. Cuidado com o que se diz moderno demais.
Sem mais o que poder falar, limito-me a uma das célebres frases de Hamlet:
“O resto é silêncio”.