quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Certificado de incompetência.

Há meses esse texto lateja em minha cabeça, clamando tempo para nascer. Nas "férias" (entre aspas pois isto, para mim, é apenas força de expressão: trabalhei 2x mais, me envolvi em projetos e cursos da faculdade,e ainda procurei certo tempo para viver) fiz um curso de BPF - SENAI (tradução: boas práticas de fabricação, desenvolvido pela colaboradora so SENAI). Este curso, de 1 semana, me habilitou a ser uma "facilitadora", como eles chamam. Ou seja, passei algumas horas sentada numa sala, com outros perdidos como eu, ouvindo uma moça falar tudo aquilo que já tínhamos, em alguma etapa de nossas vidas, ouvindo. Fico me questionando como o curso foi para os demais..afinal,sou apenas do terceiro período, e fui colega de sala,naquele momento, de formandos...
Enfim. Somos facilitadores. Está lá o certificado pra comprovar.
Destaquei essa palavra pois é dela que quero falar.
Certa vez li em um livro, cujo autor não vou me lembrar agora (está entre Millôr, Veríssimo e Jabour) que o Brasil precisava desses certificados de incompetência. Sim, pois se trabalhássemos direito, não haveria necessidade de certificado algum, para provar nada. Pois temos cada vez mais certificados,e cada vez menos qualidade.
Isto ficou claramente exemplificado para mim qd a facilitadora-mor, que, ora, nos lecionava, disse que havia um POP (procedimento operacional) para se fazer um POP. Acredita? Ou seja, temos um relatório de como se faz um relatório, evitando que as pessoas "se percam". Sim, pois a explicação dada foi que este era um mecanismo facilitador (demasiadamente repetida esta palavra durante o curso...) do trabalho do higienista. Cara, é um mecanismo para que seu cérebro não seja mais requisitado em serviço ALGUM. Vc não precisa mais pensar, porque pensar dá trabalho: apenas repita esta trabalho, acenando como um calango e anotando como um robô...mas quando for necessário falar, imite um papagaio!
E essa degradação da mente humana não é meu tópico esta noite. Quero externar minha indgnação quanto a esse mecanismo vicioso que é o "certificismo" brasileiro.
Vc pode ser tudo,mas se não há um papel provando, esqueça! Vc pode ter estudado onde quer que seja, Harvard ou Coleginho ZéMaria, se não há papel,não há nada. Sua palavra,suas conquistas e suas capacidades são apenas nomes vãos se não há um papel que os comprove.
Seu nome não é nome.
Se, de fato, trabalhássemos direito, qual seria a necessidade do ISO 22000, ou 9001, ou o próprio 9000? Qual seria o porquê do IMETRO e tantos outros órgãos que atestam a incompetência do brasileiro? Se a honestidade falasse mais alto que a ganância, nada disso seria necessário.O fabricante de briquedo não iria fabricar carrinhos que, ao menor toque, quebrassem em mil pedaços colocando a vida da criança em risco. O manipulador de alimentos lavaria a mão depois de ir ao banheiro, independente do MBPF,MBPM,POP,IT ou escambau a quatro. A honestidade e dignidade seriam todos esses certificados. A sua consciência certificaria, e isso seria confiável. Pois hoje não podemos confiar na consciência de outrem, entrando, inexoravelmente, nesse ciclo vicioso de papéis que comprovam papéis, e você é apenas o nome que consta nos autos. E esse ciclo se amplia, ficando de uma magnitude inimaginável. Quantos alunos não vão às palestras porque receberão certificados? O que eles irão adquirir em relação aos conhecimentos não importa, importa o certificado. E assim seguimos criando ISOS que determinam ISOS, e manuais que tratam de manuais.
E você?Você não é nada.
Seu papel é.

Diga-me que papéis tens, e eu te direi quem és.

domingo, 9 de agosto de 2009

Desculpem, é um texto meu. hahahaha

Essa é uma das pouquíssimas crônicas minhas...acho que depois das 432 (até hoje) poesias eu não sei bem escrever crônicas/textos corridos.



O príncipe encantado de verdade (07/02/09)
Ao meu único e grande amor, Marcos.

No final das contas você descobre que o amor, afinal, existe; e melhor, que não tem nada a ver com esse sofrimento eterno que vendem os bayorianos, nem essa obrigação de euforia constante e calafrios diversos que rotulam os superficiais. Você descobre que o sofrer é um momento necessário e que, talvez, por isso mesmo deve ser obrigatoriamente rápido, e também que calafrios diversos são mais comuns como conseqüência de uma infeliz infecção intestinal.
Você descobre que o amor nasce todos os dias, e que renová-lo é uma atitude diária e contínua. Você descobre, não necessariamente após descobrir o amor sensual, que o amor está em todas as coisas. Que o amor reflete-se no cheiro das manhãs. Você, finalmente, pára de competir aos outros a árdua missão de completar-nos, como se fossemos metades da laranja esquecida da feira. Você passa a ver que já somos completos e que, na verdade, o outro vem dividir alegrias e tristezas com você, e que isso é o melhor e mais gostoso que o tempo nos dá.
Você percebe que os contos infantis te iludiram e, finalmente, você cai na real que príncipes encantados não existem, e sim que o amor torna aos outros encantados. Porque, em algum momento, numa noite insone de terça-feira chuvosa, você descobre que o amor da sua vida não é seu colega de partido, que não pensa igual a você; nem é guerrilheiro ativista na mesma batalha que você. Que ele não gosta das suas roupas e que precisa de uma séria renovação no guarda-roupa. Você descobre que o amor da sua vida, aquele que é a razão do teu respirar, na verdade, ronca incessantemente alto durante toda noite, e tem a péssima mania de comer sorvete com batata frita.
Então, você nota que sua paixão tem cortes, cáries, cicatrizes e várias outras coisas que começam com “c” que você não gosta. Você, um dia, se olha no espelho ao lado do seu amor e vê que, na verdade, seu príncipe gosta de Bach e ópera, enquanto você é viciada no Eminem e não perde uma balada. Mas, é quando você vê que você vai, alegremente, ao teatro com ele, e no outro fim de semana ele vai à festa com você.
É com essa pessoa tão diferente que você se pega dançando abraçadinha, sem música, na sala de estar do seu apartamento alugado, sentindo-se no céu. É nos olhos dele que residem todas as razões que te fazem feliz, e você sabe lá no fundo que só vale a pena qualquer coisa na vida se você se vir refletida nos olhos dele, ali, sempre.
É com esse cara, aparentemente tão igual, e ao mesmo tempo tão diferente, que você se sente a mais sortuda das pessoas por ter encontrado morada segura nos seus braços. É por aquele homem barrigudinho que você se arruma, escreve e perde noites de sono pensando nele, e apenas nele. De todos os homens, apenas o toque dele te dá a certeza do mais puro zelo, e só o beijo dele te dá ânimo e carinho. É só com ele que você faz amor, amor de verdade. Com ele você faz amor ao tocar as mãos, ao perderem-se nos olhos um do outro.
Você percebe que “felizes para sempre” é, na verdade, quem continua a história depois do primeiro beijo e de despertar. Quem ainda acha tempo, em meio a TPM, estresse, conta de luz atrasada, aqueles quilinhos a mais e aquelas horas de sono a menos, para dançar com seu amor no meio da casa, sem música, só para senti-lo pertinho. É, na verdade, quem ainda acha seu marido o mais lindo dos homens, mesmo depois de acordar descabelado e cheirando a algo que já deveria ter sido lavado há alguns dias. Você descobre que o amor, amor de verdade, não só resiste, como se fortalece e se renova nessas condições. E, de alguma forma, você sabe que aquele cara que ronca no seu ouvido e reclama da sua melhor amiga, se abaixaria para pintar suas unhas dos pés se você tivesse artrite... mesmo ele tento artrite também.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Volta às aulas verdadeiras!

Hoje tive minha primeira aula do cursinho que me preparará para o meu futuro emprego (sim, otimista é meu segundo nome). Estou estudando no nuce pro TRE-PE. Minha motivação para esse emprego é, talvez, a mais nobre e pura de todas: casar. hehehehe
Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso foi a sensação maravilhosa de voltar às aulas. Claro, pois mesmo fazendo faculdade tinha quase 2 anos que eu não me sentia numa aula de verdade. Não sentia mais aquele entusiasmo, aquela urgência de aprender tudo, a pressa de anotar todas as preciosas informações-ouro do professor, a sensação de estudar e crescer, a certeza de que aquilo me mudou e me forma como pessoa e vai me lapidando ao longo da caminhada escolar. Que maravilha é estudar! A nítida sensação de crescimento pessoal. Não há nada que se equipare.
Confesso que assim que entrei na sala e vi aquele mar de desconhecidos - nunca vi uma sala tão grande, e tão cheia - fiquei temerosa. Analisando friamente, todas aquelas pessoas ali são, obrigatoriamente, meus concorrentes - fora os outros concorrentes espalhados por aí. Diferentemente do vestibular, todos ali estão estudando para um mesmo concurso, um mesmo fim. No vestibular não, estudávamos para o vestibular, mas não éramos, necessariamente, concorrentes. Nunca gostei dessa palavra, na verdade. Nem das retas concorrentes eu gostava. hahaha. Esse pensamento - da concorrência altíssima - fez minha barriga gelar um pouco. Ou talvez tenha sido porque a porta de entrada era daquelas do lado do palco. Quão odiosas são aquelas portas! A entrada de outrem desconcentra o aluno, a turma, o professor..e envergonha o passante. Não sei pra que alguém inventou essas portas. Odeio aquelas portas, do fundo do coração as odeio! Seja por uma razão ou por outra, a primeira sensação foi o friozinho na barriga.
Contudo, assim que a aula começou minha euforia foi tremenda. Anotando tudo, informações úteis, e quanto mais eu tinha mais eu queria..tornei-me ávida da matéria..cheguei em casa e aprofundei mais meus conhecimentos...que sensação gostosa, única e inenarrável!!!
Lembrei-me como eu gostava de ir ao colégio, e mesmo quando a aula não era tão proveitosa, eu simplesmente sempre amei aquele espaço. O convívio social, o agregador cultural, o mundo de possibilidades que se abria diariamente para mim... tudo no colégio é maravilhoso. Porque saímos de lá? Quer dizer, sair do colégio é algo aceitável..aliás, desejável e natural. Contudo, devíamos sair do colégio para ingressarmos numa faculdade que fosse, no mínimo, uma extensão melhorada do mesmo. Algo que acrescentasse ainda mais à nossa existência. Mas não.
Triste, triste realidade.
Amanhã termino o projeto de extensão de produção de licores como fonte de renda para mulheres carentes, com as alunas do ''mulheres mil'', e de repente me vejo deparada com uma pergunta que martela em minha cabeça...um fantasma que me espanta e me tortura: será que adicionei algo à vida - sofrida - daquelas mulheres?
Se não, para que serve uma aula?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Histórias inacabadas.

Ironicamente ou não, quando acabei de colocar o título desta postagem (contrariando meus professores de redação, eu normalmente começo pelo título...hehehe), apertei a tecla ''enter'' sem querer e o post foi publicado assim, em branco, inacabado.
Bem, mas, contrariamente ao resto da vida, aqui eu posso clicar no ''editar''. Ah..as maravilhas da vida moderna. xD
O fato é que hoje eu amanheci com a doce saudade de mim mesma...senti a inenarrável vontade de revisitar meu passado, e comecei a ler emails velhos. Achei fotos antigas, tive saudade de pessoas que se foram da minha vida, tive saudades de ser quem eu era, e ao mesmo tempo alguma parte (mais sensata) de mim ficou feliz por ser diferente hoje... reli e revivi momentos deliciosos de minha vida. Que massagem ao faminto e, ultimamente, solitário ego. Contudo, em meio a estes emails antigos, achei um texto que comecei a escrever. Abri-o. Me lembrava do esboço, do momento da inspiração, mas não me lembrava de tê-lo levado às vias de fato...apaguei da memória a lembrança de escrevê-lo. Fui, então, ler o tal texto. Posso dizer que aquela foi minha estreia como cronista. Talvez, sendo generosa, possa julgar a obra imatura (nada mais natural, afinal, acho que tinha 14 anos no máximo quando a escrevi). Fui lendo aquelas antigas e esquecidas linhas, descobrindo as múmias egípcias envoltas em ouros guardadas no mais profundo sarcófago do gmail, me envolvendo naquele sentimento tão forte... ah se me lembro daquele sentimento. Marcante, único, inesquecível. Devo quase toda minha vida literária a este rapaz, sem dúvida. Naquele texto eu criara uma situação perfeita, sonhada, na qual finalmente eu - então, fulana - e ele - o cicrano - nos teríamos em paz e plenitude. Toda a elaboração do texto passou a me envolver, me deixou ansiosa para saber o que aconteceria com os tais personagens, que tramas a vida iria jogar em cima dos meus - tão meus! - pobres amantes secretos...
Fui vivendo todo amor da Angélica, e revivendo toda a angústia da Rayssa.
Contudo, quando chego ao que, suponho, ser o climax, o texto simplesmente acaba!!!
Pensei ser erro do meu computador, não era possível! Eu já tinha tantas possibilidades de finais para Angélia e seu Lucas...que absurdo! Aquilo não podia estar acontecendo. O que se deu de Angélica? Ela finalmente teve seu amado para si? E todos os planos que ela fez? Todos os anos de amor silenciados pelo medo fatal, pela timidez-mordaça... e todos os anos de amor dedicados a este rapaz-deus? Como era possível que estes personagens simplesmente sumissem do meu controle, da minha vida, assim, sem mais nem menos, sem explicação ou cerimônia!?
E pior: aquele era um texto de minha autoria, e eu já não me lembrava que final eu queria dar aos pombinhos! E agora, autora cruel, que se deu desse amor tão belo?
Quando percebi que esse erro (era claro que eu tinha mandado para mim mesma o texto para que eu continuasse-o em casa, depois...e esqueci de fazê-lo) era, na verdade, drummonianamente, a verdade-poesia que inundava minha vida inteira!
Minha vida inteira (inclusive este sentimento por este, então, "Lucas") se baseou em histórias inacabadas. Planos que fiz e que nunca cumpri, juras que ficaram pelo caminho, ''para sempres'' que duraram a eternidade de um segundo, sonhos que vi despedaçarem-se.
E eu, autora (por vezes cruel) da minha vida, simplesmente esqueço de completar essas histórias!! Assisto, passiva, ao teatro da minha vida ser ensaiado, apresentado e dirigido por terceiros que, por mais competente que sejam, não são tão competentes para serem encarregados do meu teatro-vida! Você deve, afinal de contas, ser protagonista da sua própria vida!!
E você, que papel tomou na sua vida?
Isto pode apenas ser mais uma promessa vã, mas a partir de hoje serei a protagonista única e faminta da minha vida...engolindo o mundo num gole só; porque minha alma TEM sede do infinito!