segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Deitado eternamente em berço esplêndido.



Mensalão, mensalinho, CPI, castelos, fraudes, prostituas no senado, e nossos olhos apáticos, em frente à TV assistem o ruir do decoro. Que se deu com a ordem e o progresso da bandeira nacional, ora tão trêmula nos altos céus quanto nossas atitudes?
Os brasileiros, povo de tanta festa e alegria, fecham os olhos para o maior espetáculo - quiçá circense - já visto: o desaparecimento total da decência em nossos governantes. Desmotivados com as sucessivas decepções político-ideológicas, nosso povo esquece-se do cerne de nosso sistema governamental, a democracia. Segundo a Carta Magna Brasileira de 88, todo o poder emana do povo, que participa da vida política e pública do país através de representantes. Assim, orgulhosos de nossos cabrestos, dizemos que os políticos são "todos corruptos", ignorando o fato de que cada povo tem o representante que escolheu e, por isso, que merece. E vamos além, em nosso vão conformismo transvestido de indignação, dizemos que não há nada a fazer, e nos rotulamos de "apolíticos" - porque, afinal, o "não-querer-saber" é a posição política atual mais utilizada no contexto nacional. Soterramos o velho conhecimento, de Bertolt Brecht**, de que o pior analfabeto é o analfabeto político, que deixa a sua vida e de seu país totalmente à mercê dos maus políticos, corrompidos pelo poder. Esquecemo-nos até de nosso conterrâneo Paulo Freire, que, numa visão mais holística e interdisciplinar, nos ensina a força transformadora do pensamento-ação. De nada adiantou Joaquim Osório Duque Estrada jurar fidelidade infinda e incondicional, em nome de todos os brasileiros, povo heróico de brado retumbante, à pátria; se, apáticos e atônitos, assistimos o progresso e a ordem do país fugirem nas malas, meias e cuecas de nossos políticos.
É, portanto, imperioso que acordemos de nosso sono eterno - em berço esplêndido - e transformemos nossos discursos belos, retóricos e demagogos, cheios de vida e de ação. Precisamos nos conscientizar que vivemos no governo da demos, do povo, e que, portanto, está em nossas mãos o futuro do país. Assim, acabar com este ciclo conformista, com o voto barganhado e com os discursos mortos são medidas viscerais para o exercício pleno da cidadania e a consequente melhoria na história política do Brasil. Procuremos, então, métodos de conscientização da população de seu poder para com a pátria amada, Brasil.


**O Analfabeto Político
Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

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