segunda-feira, 27 de julho de 2009

Das dores,a maior.

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
dói morder a língua,
dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que
não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu,
do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida
é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem
se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade,
mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem
vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se
menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe
como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando
num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa
daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista
como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa
daquela mania de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet
e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald’s;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer
com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas
que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor
de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro,
e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz,
e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos.
É não querer saber se ele está mais magro,
se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama,
e ainda assim doer…
Saudade é isso que senti
enquanto estive escrevendo
e o que você, provavelmente, está sentindo
agora depois que acabou de ler.

Se o texto é de Miguel Falabella ou de Martha Medeiros, pouco importa. Importa que ele é lindo e traduz exatamente o que minha alma grita no momento, e eu já não tenho palavras pra descrever.

sábado, 11 de julho de 2009

Boa noite,senhor.

Que maravilha de oportunidade!!Deus é muito bom para mim mesmo...
Ele me deu um emprego que eu trabalho pouco, ganho muito,e ainda passo todo o tempo do trabalho fazendo aquilo que amo, observando! Observando a lua, o mar, a chuva, as pessoas e suas muitas possíveis histórias.
Estou como recepcionista no Bar da Praia, que é uma graça de lugar, extremamente cozy!
Bem, o fato é que agora, como simpática profissional, depois de me acustumar a ser ''psiu'', ou ''moça'' - fato que sofro menos que meus amigos garçons, que são, além de ''psiu'', estraladas de dedos... - me divirto muito, já que lido diretamente com o público, converso a noite toda, me divirto acompanhando de longe a vida das pessoas, e melhor ainda quando encontro pessoas conhecidas. :)
É engraçado porque essa nossa sociedade egoísta fez delgumas pessoas tão carentes que o simples fato de dá-las um caloroso boa noite as deixa tão felizes...e, consequentemente, a mim!
Mas, por outro lado, há aqueles que se quer olham para mim, e me fazem pensar que sou invisível.
Mas, acima de tudo, há aquele pessoal extremamente de bem com a vida, celebrando o fato de estar vivo e estar no Bar da Praia! Adoro essas pessoas, que entram felizes e saem ainda mais, falam comigo felizes, e me deixam extremamente animada também. Às vezes até conversamos e tiramos onda. Como é gostoso trabalhar num ambiente onde as pessoas são descontraídas, e estão indo para se divertirem. É realmente maravilhoso ser parte da diversão das pessoas.
Também gosto de trabalhar pela experiência pessoal, pelo crescimento que me é proporcionado ao entrar em contato com outros mundos. Foi assim na Cantão, no Contato, no Target, no Château... e está sendo assim no Bar da Praia.
Esse emprego ainda me permitiu experimentar uma delícia inusitada e tão gratuita quanto descobrir meu pé (aliás, acho que essa é a expressão mais cabível ao acontecimento,veja): descobri a maravilha de andar descalça nas pedras portuguesas das calçadas do Recife depois de passar uma noite em pé num scarpin que obviamente asfixiava e torturava meu pé.
hahahahhahahahahahahaha

Maravilhoso,não?
Também acho, Deus é muito bom!
Veja como Ele é fiel: na bíblia diz que Deus dá 10x mais do que damos no dízimo, que é a 10ª parte do que ganhamos...e DE FATO meu dízimo dessa semana será 10x que o meu último dízimo. Imagina!! Que benção!:)

Muitas novidades boas, né? Pois é...
Espero contar mais nos próximos capítulos:)

domingo, 5 de julho de 2009

Descobrindo o pé...


Você já viu uma criança descobrindo seu próprio pé?
"Como assim descobrindo o pé? Que ridículo", você deve estar pensando. Sim, mas elas, de fato, descobrem o pé - ou não e eu simplesmente gosto de pensar que elas o fazem..nunca saberemos.
Mas o fato é que é um momento único! Emocionante para o observador atento. Acho que já chorei acompanhando a descoberta de mais um pé. Se você nunca viu, devia tentar. Equivale a meses de terapia! É aquele momento mágico em que a criança, no auge do seu desequilíbrio, mais ou menos quando ela nota que aquela grande coberta branca e fofinha que colocaram em suas calças não vai permiti-lá de sentar-se corretamente, e desiste de assim o fazer, ela, de repente, se depara com um amuntuado de carne, com umas pontinhas engraçadas, que pode ou não estar coberto por um pano. Este é seu pé.
Ela, normalmente, faz algum movimento com a cabeça (afasta, inclina...enfim, demonstra interesse e espanto ingênuo, diferente do nosso espanto covarde!) e então (diferentemente de nós) parte à luta! Vai descobrir que coisa é aquela que se encontra tão perto do seu reconhecido corpinho. Até que as pontinhas do bolinho de carne se movem. E de novo. E de novo! Seus dedinhos das mãos tocam aquelas pontinhas. Até que eles se parecem. As duas pontinhas - da mão e do pé - se movem, se tocam, se conhecem. E, finalmente, depois de alguns minutos analizando seu próprio (e desconhecido) pé, ela percebe que aquelas pontinhas se movimentam quando ela quer, e que aquele amuntuado de carne lhe passa sensações. Que sensações serão essas? Sem receios, ela leva o pé à boca (diversão que lhe acompanhará enquanto sua flexibilidade lhe permitir, a partir deste momento...confesse,velhaco,você morre de inveja dessa flexibilidade!Você que mau consegue atacar seus cadarços!hahaha), acaricia seu pé e é acariciada por ele. Ela namora longamente seu pé. Seus olhos estão maravilhados com sua nova descoberta que, drummondianamente, inunda, com sua poesia, a vida inteira dela! Ela olha para os lados, ávida para contar aos que a rodeiam sua grande novidade. Ela gritaria ao mundo, se falar soubesse! Além desse pequeno percalço, ela nota que as pessoas grandes estão ocupadas demais com outras coisas menos importantes do que a descoberta do seu pé. Mas de que importa? Ela descobriu seu pé! Que maravilha de mundo, que mundo mais perfeito para se ter um pé - e um pé que você mesmo descobriu! Nada,nada no mundo, paga este momento. Para um observador atento - alguns diriam bobo,outros, desocupado - a felicidade refletida naqueles olhos é quase a mega sena (como diria o pequeno príncipe: ponha em números que os adultos entendem...hahahaha)
Há quanto tempo você não descobre seu pé? Porque na sociedade de hoje ninguém mais tem tempo para descobrir seus próprios pés? Essas pequenas (grandes!!!!!!!) alegrias que existem - latentes! - na vida, esperam apenas por uma oportunidade de desabroxar...
E todos enfiam os pés nos saltos da moda, nos tênis de corrida - correndo pra emagrecer...correndo de que?. E em último caso, amputamos os pés.
E perdemos a maravilhosa, e gratuita, alegria de descobrirmos os nossos pés. Ou mesmos de observarmos a descoberta de um novo pé, alheio - e, ao fazermos, estarmos alheios aos pés apressados que pisam em nos...sas ruas.
E dói! Dói para nós, descobridores diários de pés, observadores atentos-bobos-desocupados. Dói para nós, pés a serem descobertos.
Que tal agora você sair e descobrir um pé?